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Captura de aves filhotes, mesmo com intuito de ajudar, preocupa ambientalistas; veja as orientações

- 08 de outubro de 2018

A captura de aves filhotes, mesmo que não seja para fins comerciais, muitas vezes motivada até pelo instinto de ajudar, tem sido uma das grandes preocupações dos ambientalistas. A tensão aumenta especialmente durante a primavera, considerada uma época crítica nesse sentido, conforme explica o biólogo Ivan Vanderley Silva, diretor do Departamento Técnico de Biodiversidade da Secretaria de Recursos Naturais e Meio Ambiente (Sema), de Barueri.

“É muito comum as pessoas, no anseio de ajudar, capturarem filhotes de aves, e isso é um grande problema. Ele precisa dos cuidados e orientações que os pais dão. A retirada sem critério de filhotes, na maioria das vezes, leva à morte ou à impossibilidade de retornar à natureza, condenando o animalzinho ao cativeiro. Algumas espécies são bastante sensíveis a esse problema”, alerta Ivan.

A bióloga Erika Sayuri Kaihara, gestora do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cestas) de  Barueri, reforça as palavras de Ivan. Ela diz que nesta época do ano, com maiores índices de reprodução das aves, é comum aparecerem nas clínicas veterinárias, Centros de Zoonoses e Cetas uma grande quantidade de filhotes de aves silvestres trazidos pela população em busca de auxílio a esses animais considerados abandonados. No entanto, nem sempre esse é o caso.

“Infelizmente, apesar da boa intenção da população, uma grande parte desses filhotes não é vítima dos impactos ambientais, simplesmente são recolhidos em locais próximos aos seus ninhos, no momento em que começam a se aventurar pela área onde nasceram, quando ainda não voam perfeitamente e dependem dos pais para alimentação e proteção”, alerta.

Erika concorda que parte dessas aves são, de fato, vítimas de perda de habitat, causada por quedas de ninhos após chuvas fortes e ventanias, maus tratos pelo ser humano ou caça de animais domésticos como cães e gatos, por exemplo. No entanto, o ato solidário acaba, em muitos casos, afastando os filhotes de sua espécie e tirando dele o aprendizado necessário para sobreviver na natureza.

“Antes de recolher qualquer filhote, as pessoas devem, em primeiro lugar, ter a certeza de que esse animal está precisando ser retirado daquele local. Devemos lembrar que as aves dividem o meio ambiente conosco, fazendo ninhos em forros de casas, jardins, árvores de rua e até em postes de iluminação pública, portanto, é possível que aquele filhote esteja apenas dando seus primeiros passos para a vida e não esteja abandonado como parece”, orienta a bióloga.

Filhotes precisam explorar o mundo
Foi pensando em direcionar melhor o cidadão com relação ao correto manejo desses filhotes, que a Sema listou oito passos simples, listados abaixo:
1- Antes de qualquer coisa, faça uma avaliação detalhada do ambiente para ter certeza de que o filhote realmente precisa ser recolhido por você. Procure seu ninho, seus pais, tente identificar a espécie, idade e condições da ave e dê total preferência para a permanência dela no local, deixando a natureza seguir seu caminho;
2- Um filhote recolhido e criado pelo ser humano dificilmente poderá ter uma vida normal, uma vez que não aprenderá com os pais a caçar ou buscar alimentos, se proteger de predadores, além de ter extrema dificuldade de readaptação ao ambiente em que ele vive;
3- Se o ninho está em sua propriedade e foi apurado que houve ataque de seus animais domésticos (cães ou gatos), o melhor caminho seria prendê-los até que os filhotes tenham ido embora naturalmente. Se isso aconteceu em local público e souber qual foi o animal predador, oriente os proprietários;
4-Se descobrir que o ninho foi destruído, mas os pais ainda estiverem presentes no local, pode-se tentar fazer uma adaptação ou reformá-lo, deixando-o o mais natural possível e observar se os pais aceitam os filhotes novamente;
5- Oriente a comunidade local quando necessário, conscientizando-a da importância das aves para o mundo e para o ser humano. Se verificar que os riscos são maiores, muitas vezes a única alternativa pode ser o sigilo quanto à existência do ninho e dos filhotes;
6- Vale lembrar que quando os filhotes estão maiores, apesar de não estarem totalmente aptos para o voo, não ficam mais nos ninhos, por isso, muitas vezes o melhor a fazer é colocá-los em algum local protegido, próximo do antigo ninho, e deixar que os pais os encontrem através de seus chamados/pios para continuar a tarefa de alimentá-los e educá-los;
7- Se confirmada a impossibilidade de devolvê-los aos pais e ao seu ambiente natural, deve-se ter consciência da responsabilidade que é tomar conta de um filhote de ave silvestre, geralmente frágil, delicado e carente de cuidados muito especiais durante um bom tempo ou até por toda a vida. Além disso, é preciso saber que criar aves silvestres sem autorização dos órgãos competentes é contra a lei, podendo ser enquadrado na Lei de Crimes Ambientais;
8- Em caso de recolhimento do filhote, o único meio legal é levá-lo aos órgãos competentes, como o Cetas.

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