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Luta antimanicomial: por mais respeito aos portadores de sofrimento emocional

- 18 de maio de 2018

Quando foi à Unidade Básica de Saúde (UBS) do Jardim Belval, na segunda-feira (dia 14), a cabeleireira Helena Marques da Silva ficou assustada ao ler sobre os horrores cometidos por hospitais psiquiátricos brasileiros há poucas décadas. A exposição chamava a atenção para a luta antimanicomial. “Muito triste! Na verdade, às vezes o doente é quem internou a pessoa e não quem foi internado”, manifestou Helena. Para ela, é fundamental que o assunto seja abordado: “esse trabalho precisa ser feito para que as pessoas se conscientizem que nem todos estão doentes, o que está faltando no ser humano é o amor”.

Há mais de 30 anos os profissionais da saúde mental do Brasil batalham para que as pessoas portadoras de sofrimentos psíquicos sejam vistas com mais humanidade, respeito e dignidade. Faz parte dessa luta, obviamente, o direito deles à liberdade e ao cuidado adequado. Em Barueri o tema ganhou força durante a semana de 14 a 18 de maio, quando a Secretaria de Saúde, por meio da equipe de Saúde Mental, desenvolveu diversas atividades envolvendo toda a sociedade na discussão e compreensão do assunto. No dia 18 de maio é celebrado o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, que inspirou a iniciativa.

“A luta antimanicomial é, para nós da saúde mental, um marco do processo da reforma psiquiátrica, na qual, na década de 70, tivemos um movimento dos trabalhadores, usuários e familiares para reivindicar melhores condições de tratamento, mais digno, humanitário, territorial, porque antes existia apenas a lógica manicomial: a internação nos hospícios, onde foram denunciadas as más condições de tratamento. O 18 de maio é um marco da reforma psiquiátrica brasileira”, explica a terapeuta ocupacional e coordenadora da Saúde Mental, Ana Paula Briguet.

Ana cita a lei 10.216, intitulada Paulo Delgado, que legitima o tratamento prioritário aos transtornos mentais pelos Centros de Atenção Psicossociais (CAPs) e a rede de atenção psicossocial, voltados a um cuidado com a participação ativa da família e da comunidade. “A gente comemora muito esse movimento, na garantia e na legitimidade de um tratamento o mais livre possível, o mais perto possível da comunidade dos usuários e que possa desenvolver as potencialidades, porque acreditamos que não é só a medicação que cura, não é a internação que cura, mas é estar no mundo, é pertencer, é estar na vida, é fazer as coisas que gosta”, frisa a especialista.  

A coordenadora técnica do CAPs adulto de Barueri, Regina Montilha, reforça as palavras de Ana. Segundo ela, a mobilização é importante para discutir a questão e também lembrar o que houve e, com isso, “atualizar as políticas públicas no sentido de garantir essa nova proposta de cuidado. Os CAPs surgem como cuidado e reinserção social para tratar dos laços psicossociais”, esclarece.  

“A gente preza muito pela parceria com a família e dá suporte também a ela. Por isso que estamos abrindo essa discussão, não deixando só com quem lida com esses pacientes. As pessoas que têm um transtorno, ou por questões mentais ou por causa do uso de álcool e outras drogas, têm o direito de estar em tratamento em uma UBS, de frequentar escolas, enfim, e todos precisam entender do que se trata para poder favorecer esse convívio e ajudar”, alerta.

Uma semana de muita conscientização
A programação da semana de luta antimanicomial começou na segunda-feira (dia 14) e incluiu, além da exposição na UBS do Jardim Belval e também na UBS do Jardim Mutinga, chamada “Holocausto Brasileiro”, rodas de conversa na UBS do Parque Imperial, conversas interventivas na UBS do Parque Viana, e a atividade “Não é só brincadeira”, praticada na UBS do Pq. Dos Camargos. A equipe do Consultório na Rua também marcou presença, realizando intervenções no Pronto-Socorro do Jardim Silveira e seu entorno junto à população em situação de rua.

Já na terça (dia 15), durante o dia, os CAPs de Barueri (Adulto, Infantil e Álcool e Outras Drogas) abriram suas portas para discutir, junto aos pacientes, familiares e outros visitantes, as melhores formas de tratar pessoas com transtornos psíquicos. À noite, a equipe do Programa IST / Aids / HV juntou-se à luta e, juntos, compuseram as barracas da Feira Noturna de Barueri. Lá, realizaram testes rápidos de HIV e sífilis, além de ações de prevenção e redução de danos.

Na quarta-feira (dia 16), fez parte do calendário o III Seminário de Enfrentamento à Violência Sexual de Crianças e Adolescentes, encabeçada pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social no Centro de Aperfeiçoamento de Professores (CAP).

Todas as ações incluíram a pintura em pedaços de tecidos, feitas por pacientes e demais membros da comunidade, costurados em pleno bulevar na quinta-feira (dia 17), resultando em uma enorme bandeira para representar Barueri na tradicional caminhada do Masp, na Avenida Paulista, onde profissionais da saúde mental de várias cidades de São Paulo se encontrarão, na tarde de sexta-feira (dia 18), para encerrar as ações oficiais da Luta.

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