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Grupo multiprofissional ajuda pacientes da UBS do Imperial a deixarem o cigarro

- 31 de outubro de 2018

Marlete simplesmente não acreditava que um grupo pudesse ajudá-la a parar de fumar. Não seria mesmo fácil, já que a empregada doméstica Marlete Amorim Rodrigues Campos, moradora do Parque Imperial, começou a fumar com apenas oito anos de idade. Hoje, aos 40, sentiu na pele o preço: falta de ar constante, desmaios, uso de bombinhas para cumprir tarefas rotineiras e muitas idas ao Pronto-Socorro. Foi isso que a levou a dar uma chance ao Grupo de Combate ao Tabagismo mantido pela Unidade Básica de Saúde (UBS) Armando Gonçalves de Freitas.

“Não acreditava. Decidi buscar ajuda porque não ia conseguir sozinha, até pedi para a médica me internar. Estava ruim, eu desmaiava na rua de falta de ar, foi quando vim procurar ajuda na UBS e eu consegui, tem um mês sem fumar e eu não vou fumar mais”, comemora Marlete. “Agora está uma maravilha, eu consigo respirar, andar, subir ladeiras, o meu pulmão já melhorou muito”, garante a munícipe.

Equipe multidisciplinar
Esse tipo de grupo existe em outras UBSs de Barueri. Na unidade do Parque Imperial ele é relativamente novo, começou este ano e já atendeu duas turmas formadas por cerca de 15 pessoas cada. Trata-se de um grupo fechado, ou seja, seus integrantes têm lugar cativo e, em caso de ausência, o lugar não é dado a outro. O trabalho é realizado por uma equipe multidisciplinar, formada por um enfermeiro, uma dentista, uma médica clínica geral e uma terapeuta ocupacional.

O processo todo segue um cronograma, formado por oito encontros presenciais e cada um trata uma questão relacionada ao tabagismo, tanto com relação ao físico quanto ao psicológico. O que levou cada um começar a fumar? “A gente trabalha trazendo eles para a realidade, fazendo entenderem o sentido que eles colocam na droga, porque quem busca a droga não está conseguindo lidar com as emoções. Fazemos eles entenderem que mesmo sem a droga as situações emotivas vão estar presentes e o objetivo é que se fortaleçam cada vez mais”, explica o enfermeiro e coordenador do grupo, Luciano Prata.

“Eu não sabia como era respirar”
Além de parar de fumar, os frequentadores do grupo aprendem também a abrir seus corações, a botarem para fora sentimentos antigos e dolorosos e, com isso, resolver questões emocionais que, muitas vezes, são as que os empurraram ao tabaco.

Foi exatamente isso que a comerciante Silvana de Jesus relatou quando veio especialmente para dar seu testemunho aos membros do grupo atual. Ela participou da primeira turma e, orgulhosa, celebra sete meses sem fumar. Silvana fumou durante 24 anos, começando com apenas 11. Segundo conta, o grupo mudou sua vida, até porque conseguiu falar sobre coisas que nunca tinha conseguido antes e garante que depois de passar por isso acabou se conhecendo melhor.

“O grupo foi muito importante nesse processo. A amizade deles, do Luciano, da médica, deles todos, porque a gente se transformou em um tipo de família. Eles não ficam julgando você, dão todo aquele suporte e você consegue se abrir. Pra mim foi muito bom”, afirma.  E completa: “dá até para respirar, eu não sabia como era respirar, você sente aquele alívio. Estou muito agradecida por ter conseguido isso, pra mim é uma vitória”.

Marlete concorda. “O grupo ajuda muito, um dá conselho ao outro, escuta o desabafo do outro, dá muita força pra gente e fazemos muita amizade. Os médicos são muito bons, gosto daqui, principalmente esse tratamento que eu fiz. Quem quiser parar de fumar é só vir aqui porque é ótimo”, recomenda com um largo sorriso.

Luciano explica que esse tipo de abordagem é considerada de alta complexidade, justamente porque mexe com o emocional. Além dos encontros, os pacientes recebem adesivos e também atendimento farmacológico, dependendo do perfil, além de encaminhamentos a psicólogos ou outros profissionais, se necessário. Nesse último grupo, por exemplo, nenhum dos integrantes precisou de medicação oral.

Colecionando ex-fumantes
A taxa de sucesso tem sido ótima. No grupo atual, ela só não foi de 100% porque dois participantes vieram apenas na entrevista, mas todos os outros estão sem fumar até agora. Na turma anterior, 72% dos participantes deixaram o vício. Se o paciente ficar até o 5º encontro sem fumar, é considerado um caso de sucesso.

De acordo com o enfermeiro, controlar a fissura é uma das tarefas mais difíceis do processo. A fissura marca os momentos em que a necessidade do cigarro é extremamente forte, geralmente provocada por certos hábitos que ligam a pessoa ao ato de fumar. Ela dura por volta de cinco minutos apenas, mas nesse pouco tempo consegue fazer muitos sucumbirem, pondo a perder o tratamento.

Para combater tal ameaça, os profissionais apresentam diferentes alternativas para enfrentar esses lapsos de forma saudável tanto para o corpo quanto para a mente. “Se ele conseguir substituir esses cinco minutos com algumas estratégias saudáveis, não vai fumar, e esse tempo vai espaçando cada vez mais. Isso nos leva a trabalhar a cura, porque o que leva a pessoa a buscar a droga são sentimentos e ele tem que aprender a fazer um enfrentamento sem a droga. E quando a gente fala de droga é de uma forma geral, só que o cigarro é mais difícil de parar porque é uma droga social”, diz Luciano, que já atuou profissionalmente na Cracolândia.

Para participar do Grupo de Combate ao Tabagismo da UBS do Parque Imperial não é necessário encaminhamento, basta procurar a equipe da unidade e registrar interesse.

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