Histórias que contam mais que 68 anos

- 01 de abril de 2017

No domingo, 26 de março, foi celebrado o aniversário de 68 anos da emancipação político-administrativa de Barueri. Como forma de homenagear o povo barueriense, a equipe de reportagem do Jornal Oficial de Barueri ouviu de moradores um pouco de como era a cidade no passado: esporte, lazer, cultura, saúde e religiosidade. E na era da Cidade Inteligente, também há a expectativa sobre o futuro com o garoto Guilherme.

Brincalhão, aos 76 anos, Cunga é referência de bom humor
Leoni Pereira de Souza. Talvez por esse nome muitos moradores da cidade não o conheçam. Mas deem uma volta pela Vila Boa Vista ou pelos diversos campos de futebol da cidade e perguntem quem conhece o “Cunga”. Com 76 anos de idade e 76 anos morando na mesma Vila Boa Vista, Cunga que é casado com dona Dulce, tem quatro filhos homens e seis netos é a personificação da pessoa calma e brincalhona. Aquele tipo de vovô bonachão que faz tudo o que estiver ao alcance para alegrar os netos.

Ex-jogador da várzea de Barueri e de Carapicuíba entre outros, quem viu jogar diz quer era um belíssimo quarto zagueiro. Daqueles clássicos. Matava a bola, saia jogando sempre com bom passe. Quando era necessário não tinha medo era bola para o mato. Até tentou a vida de jogador profissional, mas uma partida não muito feliz em seu teste na Internacional de Limeira contra a Ponte Preta acabou com o sonho: “Estávamos ganhando de 2x0 e depois que eu entrei a Ponte acabou virando num pênalti que só o juiz diz que eu fiz. O presidente do time queria que eu fizesse mais alguns testes, mas eu não quis. O Duri (morador de Barueri, amigo de Cunga) assinou com a Inter naquele mesmo domingo. Ele era um craque. Vi muitos craques em Barueri. Não estou falando de bom jogador não. Estou falando de craques mesmo. O Duri, o Iraci meu irmão, Lazinho, Geraldo, Wagnão, o goleiro Jura, Manolo, Ziano grande centroavante ganhava todas por cima, Milton Bulldog, Benê de Carapicuíba. Foram muitos. O Benê só não foi para a seleção porque inventaram que ele tinha sopro no coração.”

E no aniversário de 68 anos de emancipação político-administrativa de Barueri, a cidade não poderia deixar de homenagear um dos seus filhos mais ilustres, afinal são 76 anos como morador da cidade, mais tempo do que a existência do próprio município e 50 anos de casado.

“Antigamente nossa alegria aqui na cidade era o circo que vinha para cá, o campo que era ali atrás da igreja e a natação no rio Barueri-Mirim. Ficávamos felizes quando chovia bastante para poder alagar. Era a nossa felicidade. Coisa de criança né. No centro alagava tudo. Era a nossa farra. São 76 anos felizes. Eu queria que todos tivessem a felicidade que eu tenho com meus filhos, meus netos, meus irmãos que já se foram.”

Embalando as noites
“Em 1978, eu tinha ido assistir ao lançamento do filme “Os Embalos de Sábado à Noite” na Faria Lima e quando voltei a Barueri, já na estação, me disseram que tinha um pessoal me procurando para tocar no Barueri Futebol Clube porque o conjunto que estava se apresentando não tinha sido bem aceito pelo público. Passei em casa, peguei meu equipamento e fui para lá”, relembra Celso Rodrigues, hoje com 59 anos, quatro filhas e uma neta, sobre a primeira noite em que pôs a galera para dançar na avenida Dom Pedro II, no centro da cidade.

Com o sugestivo apelido de Celsom, o rapaz tímido e pacato que só se soltava atrás dos toca-discos, comandou por mais 20 anos os embalos musicais na mesma avenida. Metade no Barueri Futebol Clube e o restante na danceteria Mesma Direção, que chegou a arrendar e depois compar.

O gosto pela promoção de eventos começou em casa. Na década de 60, seu pai Benedito Rodrigues (hoje com 86 anos, ao lado da esposa Sebastiana, de 78), reunia a molecada da Vila Barros para sessões de cinema em sua casa. “Ele mesmo fazia as máquinas para projetar os filmes, ninguém tinha televisão naquela época”, relata.

Aos poucos as sessões de cinema se transformaram em bailinhos de rock’n roll do Celsom. “Dava um certo horário, meu pai mandava parar, mas eu não parava. Ele ia no relógio geral e  saía todo mundo no escuro.”

As festas e excursões levaram ao primeiro serviço remunerado com a música: no clube Dez de Setembro, no Jardim Belval, em sociedade com o hoje mecânico Douglão. Em 1977 passou a frequentar o Barueri Futebol Clube e auxiliar como curioso os conjuntos musicais. Isso até o dia em que viu John Travolta dançando na telona.

Há dois anos Celsom abriu o Discoooooo Bar, na rua Marabá, 61 – mesmo endereço onde tudo começou com os filmes de seu pai. A casa abre de quarta a domingo e já trouxe DJs renomados do programa Energia na Veia, da Rádio 97 FM. Às terças, o incansável Celsom, que de dia trabalha com transporte, põe o público da Feira Noturna de Barueri para dançar.

Zélia Lobo relembra trajetória cultural do Grupo Tempo
Espetáculos, festas, gincanas e outras atividades marcaram uma importante época na cultura de Barueri, através do Grupo Tempo (Teatro, Música e Poesia). Por mais de uma década, entre os anos de 70 e 80, ex-integrantes como Zélia Batista Lobo se apresentaram em vários locais da cidade, em municípios do interior paulista e em estados como Paraná, Mato Grosso e Minas Gerais.

Zélia Batista Lobo não se apresenta mais como atriz. Está em atividade como contabilista, já foi professora de Língua Portuguesa, é casada e mãe de Bruna e Emily. Porém, relembra os bons momentos vividos no Grupo Tempo fundado na década pelo jornalista Gerson Pedro e pelo saudoso Sérgio Honda.

Ela conta que conheceu o Grupo Tempo no Jardim Belval. Que, inicialmente, Gerson Pedro e Sérgio Honda desenvolveram um trabalho na escola em que ela estudava: a Unidade Integrada de Vila Nova, que hoje é a EEPSG José Wilson Padinha. “Iniciaram um curso para a criançada da faixa de 14, 15, 16 anos. Eram atividades para os alunos da escola, onde a gente fazia alguns ensaios em horário de aulas”, lembra. Depois, segundo ela, o trabalho foi estendido para a comunidade.

De acordo com Zélia Lobo, foi realizado na escola um trabalho de teatro. “Um aprendizado para a gente. Era um curso de expressão corporal e dicção. Eu era muito tímida, mas sempre gostei”, conta Zélia, que nasceu em Caraguatatuba. “Lá, eu cantava no coral e gostava de desfilar”.

Além dela, Gerson Pedro e Sérgio Honda, passaram pelo grupo nomes como:  Antonio  João  de  Brito,  Luiz  de Figueiredo, Wagner  Figueiredo, Leôncio  Silva  de  Souza,  Maria das  Dores,  Maria Adélia Paulino, Rosângela Mezzavila,  Mauro  dos  Santos, Maria das Graças  Costa, Izabel Custódio,  Terezinha  de  Godói, Paulo  Takeuchi, Maria  Encarnação, Marilene Serpa dos Santos e Orlando Juruna.

De acordo com ela, outro membro muito importante para o grupo foi Camilo de Lelis Silva. “O pai dele cedeu uma sala para os nossos ensaios. Dali levamos o nome de Barueri para muitos locais. Participamos da primeira mostra de teatro amador de Santa Fé do Sul (SP), onde mostramos o nosso trabalho por duas vezes. O primeiro foi com a peça O Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente. Depois estivemos em outra amostra, em Ilha Solteira (SP), onde apresentamos a peça O Auto da Compadecida, de Ariane Suassuna. Tivemos ainda um trabalho infantil em que montamos a peça A Bruxinha que era Boa e levamos nas escolas”.

Ela conta que o grupo, também, teve a participação importante de Benedito Adherbal Farbo, o Nini, ex-vereador e dono do jornal do Oeste. “Era uma figura. Ele fez alguns trabalhos conosco. Ajudava a pleitear junto à Prefeitura apoio para a gente se locomover até os locais”, explica.

Em Barueri, Zélia lembra ainda que o Grupo Tempo produzia trabalhos para épocas festivas. “Quanto tinha algum movimento histórico, como  7 de setembro, a gente desenvolvia uma coisa rápida, com música e encenação, para apresentação no Centro de Barueri. Era um trabalho voluntário, que fazíamos pelo gosto mesmo. Eu segui no grupo durante cinco anos. Sai antes de eles pararem. Mas depois ele permaneceram mais uns dois anos. Eu era sempre a boazinha. No Alto da Compadecida, eu era a Compadecida; no Alto da Barca do Inferno, eu fui o Anjo; na Bruxinha que era Boa, eu era a Ângela, a bruxinha boa”, conta. 

Nascida no Litoral Norte paulista, Zélia diz que acompanhou toda a mudança da cidade. “Quando cheguei aqui estranhei muito, porque eu era acostumada a Caraguatatuba. Lá, na época, tinha uma praça, um coreto, fonte luminosa – coisa de cidade do interior. Aqui não tinha nada disso: uma praça, um cinema. Hoje vejo que os jovens não têm dificuldades em nada. Sofríamos muito por não termos apoio, não tínhamos nenhuma sede. Hoje a cultura está muito boa. Acredito que plantamos uma semente. Depois foi criado teatro, grupos para desenvolver esses trabalhos com os jovens. Cresceu muito a valorização nesse aspecto. Como moradora de Barueri, há mais de 40 anos, quero parabeniza-la pelos 68 anos de emancipação e pelo vultuoso crescimento, pois só quem viu aquela pequena e pacata cidade dormitório chegar a autonomia de hoje, pode parar e admirar. Hoje, temos tudo em nosso município, como oportunidades de trabalho, saúde e educação e podemos melhorar ainda mais contando com uma séria e honesta administração”.

Utilidade Pública - O Grupo Tempo surgiu após a Turma da Canjica, que nasceu em meados de 1963, era vinculada à igreja e promovia atividades  com  jovens,  com  bailes  e  algumas  montagens  teatrais. Além disso, existia o Cine Jardim que foi fechado em 1967.

A fundação do Grupo Tempo ocorreu também em razão do Cisogran, um consórcio cultural assinado  entre os municípios  da  região. Em Barueri, a Prefeitura ofereceu um curso de teatro que possibilitou aos alunos a apresentação da peça “Auto  da  Barca  do Inferno”, como integrantes do Gebat (Grupo Experimental Barueri de Teatro). Depois de diversas apresentações no circuito escolar da cidade, o nome foi alterado para Grupo Tempo e foi declarado instituição de utilidade pública, conforme Lei 29/76, de 4 de agosto de 1976, de autoria do então vereador Benedito Adherbal Farbo.

Há 70 anos em Barueri, Juca da Farmácia coleciona amigos e muita história
José do Amaral é um ilustre cidadão de Barueri, é popularmente conhecido como Juca da Farmácia. Atualmente com 79 anos de idade, chegou à cidade ainda criança, no ano de 1946.

Garoto apaixonado por caça e pesca, estudou no Grupo Escolar Raposo Tavares, localizado – na época – na Rua Campos Sales. Ele se auto intitula como um corintiano meia boca, pois sempre trocou qualquer partida de futebol por uma boa pescaria. Como um bom  pescador não perde tempo ao contar uma de suas aventuras no pantanal, ocasião em que trouxe para casa um peixe do seu tamanho e três jacarés vivos.

Seu Juca lembra que – quando criança - passava boa parte do seu dia caçando passarinhos e nadando no rio Barueri Mirim “eu gostava de mergulhar de uma ponte que ficava na altura da Avenida Campos Salles e nadava até onde hoje é o Sameb”, conta.

Preocupada com as pequenas aventuras do filho, em meados de 1951, a mãe de Juca, dona Isolina Gomes pediu para o comerciante Benedito Moraes Sobrinho arrumar o emprego na farmácia da cidade, local onde Juca trabalhou por 44 anos.

Seu Juca lembra que aos longos dos anos trabalhando na farmácia, aprendeu de tudo um pouco. “O seu Benedito foi meu grande professor e me ensinou que ao exercer nosso ofício tínhamos que ser um pouco curandeiro, enfermeiro e médico”, brincou.

Morando há 71 anos em Barueri, o farmacêutico fez questão de registrar sua alegria por ter feito tantos e bons amigos com os irmãos da família Mingatos, Osvaldo e Joel, Lafaiete, Duri, Darcizinho, Chiquinho da Junta Militar, Jose Luis Nemeth, entre outros.

Ao relembrar os tempos em que atuava como farmacêutico do seu Benedito, ele analisa sobre os diferentes desafios em cada época. “No meu tempo, nosso grande trabalho era o combate à coqueluche (tosse comprida), e a raiva. Muita gente nos procurava para serem atendidos por conta desses males. Naquela época não tratávamos de enfermidades como dengue, zica, etc”, analisou o ilustre farmacêutico.

Após o ano de 1998, com a venda da farmácia do Senhor Benedito, Juca foi convidado a trabalhar na Farmácia Municipal, onde presta serviços até hoje.

“Trata-se de é um excelente equipamento de apoio à população, hoje as pessoas têm uma longevidade muito maior que em tempos atrás, graças ao acesso a médicos e medicamentos gratuitos”, finalizou.

Dona Lazinha uma personagem viva da historia de Barueri
Lázara Rosa, 83 anos de idade bem vividos dos quais setenta em Barueri, de fala e memória muito bem articulada, lépida nos movimentos em nenhuma hipótese demonstra a idade que tem, salvo pelos cabelos brancos que não faz questão nenhuma de esconder. Tão logo chegou por aqui, ainda adolescente, oriunda da cidade de Garça na região Centro-Oeste do Estado de São Paulo, foi morar com sua família primeiramente e por um pequeno período, em uma casa na Rua Duque de Caxias, imóvel este que existe até hoje, isso se deu lá pelos idos de janeiro de 1947.

Posteriormente mudou-se para a avenida D. Pedro II, onde havia um conjunto de casas, mais popularmente conhecido como “cortiço” do senhor” Degundes”, onde residiram por muitos anos seguidos, período no qual outros familiares também fixaram moradia por aqui. Dona “Lazinha” como é popularmente conhecida revelou que veio parar em Barueri graças à vinda primeiramente de sua irmã mais velha Geracy Rosa, (já falecida), para a Capital de São Paulo, para trabalhar como cozinheira na residência de uma família tradicional, cujo chefe, era importante diretor da Estrada de Ferro Sorocabana. Com isso, através dela abriu-se a oportunidade de trabalho na ferrovia para muitos parentes muitos outros conhecidos que foram atraídos para cá, e muitas dessas famílias fazem parte hoje da sociedade barueriense.

Segundo as suas reminiscências, Barueri era uma localidade muito pequena e não passava de um distrito de Santana de Parnaíba, possuía um comércio muito acanhado aonde se destacava o armazém do “seu Aristides” e em termos de indústria incipiente que se recorda, havia apenas o matadouro de porcos e uma empresa de moagem de pedras calcárias, ambas empregavam um pequeno número de pessoas, ambas na área central.

Católica fervorosa, solteira, sempre frequentou e frequenta ate hoje a paróquia de São Joao Batista padroeiro da cidade inclusive foi membro da Pia União das Filhas de Maria, uma associação de moças católicas sob a proteção da Virgem Imaculada e de Santa Inês. Recorda ela das dificuldades para praticamente tudo naquela época, mas que mesmo assim sempre buscou a superação e até para concluir seus estudos primários, ia de trem até a capital onde frequentou uma escola da Associação de Vicentinos na Alameda Dino Bueno, que era dirigido por freiras. Profissionalmente, trabalhou por mais de dezesseis anos no hospital Emílio Ribas e posteriormente como costureira função na qual veio a se aposentar, guarda muitas recordações e interessantes narrativas sobre a história do desenvolvimento local.

Indagada sobre a importância do aniversário de emancipação política de Barueri, dona Lazinha disse ser uma pessoa muito orgulhosa de poder fazer parte dessa história ate os dias de hoje e de poder vivenciar a pujança e o desenvolvimento em todos os sentidos e finalizou dizendo “Parabéns a nossa cidade maravilhosa que hoje completa 68 anos de Emancipação Política e Administrativa! Barueri, cidade acolhedora, de belezas, encantos e de um aconchego sem igual. Minha cidade querida e muito amada por todos nós… Orgulho-me de ser barueriense e fazer parte dessa história e de ter aqui as melhores pessoas do mundo!”

Do passado ao futuro: com 10 anos, Guilherme valoriza o conhecimento
Sintomas de dislexia quando tinha 4 anos não impediram Guilherme Martins de descobrir que existia um universo vasto de conhecimento. Com 6 anos já sabia ler, e o título  “O Pequeno Príncipe” foi uns dos pioneiros a ocupar a prateleira de livros que o acompanham, por onde estiver.

"A nossa vida é uma correria, temos uma empresa de informática. E mal paramos em casa, o Gui nos acompanha nessa jornada quando não está na escola, e nessas vindas e idas ao escritório, resolvemos separar uma caixa cheia de livros do Guilherme, enquanto trabalhamos e ele coloca a leitura em dia” disse, Ricardo Jardim, o pai orgulhoso.

Hoje, com 10 anos de idade, e apesar de pertencer a uma geração “conectada”, o estudioso Guilherme gosta de livros, se diverte com uma coleção soldadinhos e encanta professores e familiares ao fazer uma maquete que homenageia parte da memória de Barueri – “Monumento ao Soldado” – escultura de bronze que valoriza o exercito brasileiro.

“Eu gosto do soldado, porque eles defendem o nosso país. São fortes e guerreiros” disse Guilherme quando brincava com suas miniaturas.

Gui, como o chamam em casa, também se descobriu um amante das ciências biológicas, sonha em ser veterinário ou biólogo.

“Eu gosto de ciências porque eu quero descobrir as coisas. Ah! Eu também amo animais”, disse empolgado, quando percebe que em Barueri, esse universo pode ser ainda mais explorado, graças da nossa área de preservação ambiental.

Depois de Ciências, o pequeno desbravador, também se encanta com os livros de história, sobretudo, a era jurássica.

"Adoro os dinossauros, porque são animais também, e porque lembram um momento fantástico da história e da natureza”, e completou, “Estudar e aprender é maravilhoso. É pra vida toda e isso reflete no futuro” ensina.

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