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Residentes terapêuticos de Barueri promovem festa para crianças e fortalecem vínculos com a comunidade

- 14 de outubro de 2025

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Resumo: 

  • Moradores das Residências Terapêuticas de Barueri organizaram uma festa para crianças da comunidade, fortalecendo vínculos e combatendo o estigma sobre saúde mental.  
  • A iniciativa partiu dos próprios residentes, que participam de atividades terapêuticas visando autonomia e inclusão. 
  • Histórias como a de C.D.O. mostram como afeto, arte e convivência promovem transformação e dignidade. 

A convivência e o afeto transformam vidas. Prova disso é o grupo de moradores das Residências Terapêuticas de Barueri, serviço vinculado ao Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da Secretaria de Saúde, que, neste mês de outubro, decidiu realizar uma festa para as crianças da comunidade.  

A iniciativa nasceu do próprio grupo de residentes, que vem alcançando um nível crescente de autonomia e integração social, um dos principais objetivos do programa. As Residências Terapêuticas acolhem pessoas egressas de hospitais psiquiátricos e em sofrimento psíquico grave, muitas delas com histórico de rompimento de vínculos familiares ou sociais.  

Segundo Sinara Aparecida Vieira da Silva, assistente social e chefia imediata do Serviço Residencial Terapêutico, o município mantém dois tipos de unidades: “As Residências Terapêuticas Tipo 1 são destinadas a pacientes que perderam o vínculo familiar, mas que conseguem conduzir a própria rotina com autonomia. Já as Tipo 2 acolhem pessoas com menor grau de independência, muitas delas vindas de hospitais de custódia”, explica Sinara.  

Saiba mais 
Cada morador tem um Projeto Terapêutico Singular (PTS), construído em conjunto com o Caps Adulto e uma equipe multiprofissional composta por psicólogos, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, psiquiatras e clínicos gerais. O foco é promover autonomia, qualidade de vida e reinserção social, fortalecendo laços afetivos e o sentimento de pertencimento à comunidade. 

Arte, trabalho e afeto como caminhos de cura  
As atividades terapêuticas incluem artesanato, cultivo de hortas, futebol, idas ao supermercado e outras ações cotidianas acompanhadas por cuidadores e assistentes sociais. Com o tempo, o artesanato produzido pelos residentes, como chaveiros, pulseiras e cordões de crachá, começou a gerar uma renda coletiva, administrada em grupo. É dessa renda que surgiu a ideia da festa infantil.  

“Eles decidem juntos o que fazer com o dinheiro. Já fizeram churrascos, encontros e agora quiseram retribuir com uma festa para as crianças da vizinhança. Foi uma forma espontânea de demonstrar afeto e se conectar com a comunidade”, conta Sinara.  

A aproximação tem quebrado preconceitos e transformado a forma como a sociedade vê a saúde mental. “Durante muito tempo, esses pacientes foram isolados, invisibilizados. Depois da pandemia, as pessoas começaram a enxergar mais a importância do cuidado emocional. Essas ações mostram que eles são seres humanos, com desejos, direitos e capacidade de amar. Prender não trata ninguém”, reforça a assistente social.  

Comunidade envolvida e solidária  
O gesto dos residentes comoveu vizinhos e voluntários, como Ulisses Mendes Pimentel, profissional de tecnologia da informação que realiza ações com pessoas em situação de rua e acompanha o trabalho das residências.  

“Quando vejo um projeto assim, eu paro e participo. É uma forma de trazer humanidade, de lembrar que amar o próximo não é teoria, é prática. Esse tipo de ação resgata a dignidade e a empatia que o mundo tanto precisa”, disse Ulisses.  

Caso exitoso: força da consciência e da arte  
A experiência das Residências Terapêuticas de Barueri mostra que o cuidado em saúde mental vai muito além do tratamento médico: é sobre reconstruir vínculos, devolver autonomia e reafirmar a humanidade de cada indivíduo.  

Entre as histórias inspiradoras está a do residente identificado pelas iniciais C.D.O., exemplo de transformação e consciência social. Com histórico de diversas internações, ele hoje cursa o EJA (Educação de Jovens e Adultos) e encontrou na arte, na música e na escrita um caminho de libertação.  

Com o próprio benefício, comprou materiais recicláveis e criou coletores de bitucas de cigarro para conscientizar as pessoas que passam pelo Terminal Rodoviário sobre o descarte correto.  

Detalhes de uma vida 
“Irmã, no silêncio estou conscientizando as pessoas. Eu não preciso falar; é só eu pegar do chão e colocar a bituca lá”, contou C.D.O., com simplicidade e sabedoria.  

Seu quarto, no qual ele guarda seus pertences, é possível perceber seu carinho pelo espaço: um rádio, um teclado, livros de inglês e de música. Em meio a melodias de “Stand by Me”, ele reflete sobre o que aprendeu.  

“A música é a arte de manifestar os diversos aspectos da alma — ritmo, melodia e harmonia”, recitou, e conta que na Residência Terapêutica encontrou respeito.  

“É o primeiro quarto que tive na vida. Antes, eu vivia isolado, de castigo, preso, sem poder estudar. Hoje posso escrever quando quiser”, relata.  

Leitor dedicado, cita trechos de “Rota 66”, de Caco Barcellos, o livro que está lendo no momento, como inspiração para sua consciência crítica. “A frase ‘Por favor, não me mate!’ me marcou. É um pedido de misericórdia. E aqui tiveram misericórdia de mim. Sou muito grato por estar aqui”, conclui emocionado. 

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